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abril
(39)
sábado, 17 de abril de 2010
AS QUATRO ESTAÇÕES
Moacir Cunha®
As quatro estações
não importa o que sejas,
o que desejas
ou onde estejas..
No tempo das flores,
dás perfume à minha vida,
tirando a mágoa sofrida...
Sinto uma grande emoção,
algo muito especial,
paixão sincera,
estando então,
na estação
da primavera...
No tempo do calor,
fazes calar a dor,
e em meu coração,
passa a reinar o amor...
Mexes comigo,
e extravasas meu ser.
És meu abrigo
e conquistaste meu coração
na estação do verão...
No tempo da incerteza,
me presenteias com tua pureza.
Em meu te querer,
com sabor e prazer...
Vens firme ao meu peito,
atrapalhas meu sono.
Sonho desse jeito
a estação do outono...
No tempo do frio,
no peito um vazio,
se não reconheces o que sinto.
A solidão reina nessa estação.
Espero, então, o verão,
para que alegres minha paixão...
Penso tanto em ti,
que quase me esqueci.
Preciso de teu amor e tesão eternos,
mesmo na estação do inverno...
Em qualquer momento,
em qualquer estação,
és dona de meu tormento,
e enorme sensação...
Mas tanto no outono
como no inverno,
primavera ou verão,
pra sempre estarás tatuada
e trancada,
em meu coração,
queiras, ou não...
AMO VOCÊ!!!
Marisa Nieri®
O dia amanheceu chuvoso.
A natureza chora.
Chora também meu coração.
A saudade
que sua ausência me trás,
Aperta-me o peito.
Sufoca em mim a voz
Que teima em querer
Gritar alto e para todos,
o quanto amo você.
Mas o grito fica retido
No vazio da solidão
Em que me encontro.
Resta-me apenas o consolo
De poder molhar meu rosto
Nas águas da chuva
E misturar minhas lágrimas
Às lágrimas da natureza
Deixando-as, juntas, caírem
Fertilizando o solo que nos sustenta.
A Rosa e o Mar
Linda doçura de gosto refinado
embelezas minha estrada, o meu caminho
com teus leves "insites" amalgamados
de amor, de ternura e de carinho.
Tuas palavras acariciam o meu ego,
teus versos me revelam o lado lindo,
tua sutileza me envolve e me desprego
das amarras da vida e do destino.
Pena não poder todo dia estar contigo
trocando nossos versos e desatinos,
mas saiba que tens aqui um ser amado
Para fazer valer teus sonhos lindos...
Finalmente, penso em você à luz da lua
deitada naquele barco que vem vindo,
naquela praia que sempre foi tua
esperas... o meu amor que vem surgindo!
Em vão
Sonhos, magias.
Poesias, ilusão.
Historias não contadas.
Buscas, em vão.
Magia da lua...
Corpo, coração.
Silenciar, de almas,
Tudo, em vão.
Amor, canções.
Liberdade, e dor.
Amarguras, solidão.
Coloridos, em vão.
Poeta, que ama.
Na justa razão.
Pondo alma , coração.
...E grita mudo, sem ecos.
Derrama apenas uma lagrima,
...Uma lagrima, em vão.
Sonhos
o mais sublime tóxico do mundo,
a morfina ideal do teu viver...
- sonha um sonho infinito, azul, profundo
Indefinidamente,
e esquece a vida que tu tens presente
pela vida maior que há no teu Ser! (...)
Não poderás viver ao chão pousado
porque escravo da terra tu não és...
- nasceste para o azul imensurado
para rasgar o céu de asas abertas,
não tendo ao solo acorrentado os pés! (...)
Sonha! Que este sonhar só bem te faz!
Sê sempre o mesmo:
Um louco!
Um incomum!
Não te sujeites a domínio algum
e que o teu sonho não acabe mais!"
Sweet Begônia
♥♥
Amor proprio
...pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo...
De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que isso se chama AMOR PRÓPRIO!
"Sem amor por si mesmo, o amor pelos outros também não é possível. O ódio por si mesmo é exatamente idêntico ao flagrante egoísmo, conduz ao mesmo isolamento cruel e ao mesmo desespero".
O olhar diz tudo
silencia a voz
apaga o gesto
pára o tempo..
a profundidade de um olhar..
solta a verdade
mostra o sentimento
solta a emoção..
a profundidade de um olhar..
magia que vem de dentro
grito da alma
no silêncio do olhar."
"As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar."
Leonardo da Vinci
"As palavras estão cheias de falsidade ou de arte; o olhar é a linguagem do coração."
William Shakespeare
quarta-feira, 14 de abril de 2010
AMOR
Sentada aqui sozinha
Turbulenta querendo sentir amor...
Queria espalhar esse turbilhão;
Turbilhão de emoções que me envolve em esplendor.
Aos ventos eu grito:
EU AMO!
Sim... Eu amo alguém
E me orgulho de sentir esse dom divino!
Sabor junto com amor
Alegria de viver
Fracionada
De
Degusto esse amor com desejo;
E sede de mais amor
Aqui eu escrevo sobre o divino...
Divino dom de amor.
AGUARDANDO
Sabendo que minha mente confusa
Pode um dia deste mesmo por ai,
Me trair como ninguém ainda fez comigo
Ardor na pele e na alma
Sangue jorra em meus olhos
Não sinto mais aquilo que me alimentava;
O que me mantinha viva.
Agora só tenho a dizer
Que minha mente confusa, minha alma ferida
E o mistério que envolve meus olhos
É tudo que me restou de uma vida falida
Meu túmulo me espera
Retumbante semblante a me aguardar
Sussurra ao pé do meu ouvido
Que a morte está a me esperar
The Persephon on the Night
The Persephon on the Night
A perséfone noite
Me conta horrores sobre a vida
Contando-me a noturna escuridão
Perfeita em plena mansidão.
Trago-te sombrios beijos
e desejos de mais amor
Traduzidos em puro sabor
De noites a pernoitar sozinho.
Saúdo-te lua saudável
Carinho surdo e escuro
Mas alegro-me ao ver teu rosto
cheio de dor, amor e paixão.
Mas mesmo sozinha
sinto-me segura mesmo morbida
Da certeza de sentir teu corpo escuro
Tocado pela lua-cheia em terror.
Calso-te horror,
Desejo,
Mas contudo te transformo...
...Transformo em pura sedução.
ANUBIS
ANUBIS
O ódio que domina em minhas veias
Faz minha mente ressoar
Acobertando
Tributo a Anubis no deserto!
O sarcófago foi aberto.
Assim tentarei consertar
Aquilo ferido no tempo
Falso daquilo que foi dito.
Pedindo aos céus que me perdoe,
Espetando minha alma na rosa
Acobertando minha solidão...
...em lágrimas!
-Oh, Anubis do deserto!
Senhor da morte e do nascer...
Calse em meus pés amarurados
As sandalias do morrer!
Então, parada me senti imune
Sangrando não senti dor.
Vi-me pela última vez
Morrendo sem amor.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Quero ser a noite
Já não me basta este corpo de carne
E já me doem lembranças desta vida
Eu quero ser a noite, em todo seu esplendor
Quero ser o céu escuro que te cobre nas noites sem lua
Já não me basta esta beleza limitada
Essas paixões de memórias
Este corpo de vida curta
Não quero ser lembrada
Não quero ser esquecida
Não quero estar aqui
Eu quero ser
Apenas ser
E sempre ser
Eu quero que me sintas, me toques, me vejas
E eu não estarei lá
Não quero estar ao teu lado para que apenas assim penses
Eu
A noite de beleza eterna
Quero ser a brisa que te toca todas as manhãs
Que te traz noticias de além mar
Eu quero ser o manto negro que te cobre ao final de todas as tardes
Eu quero ser a noite
Quero ser para sempre
Poesia do silêncio
Nestas horas mortas que a noite cria, entre um e outro verso do pavoroso poema, que sob a pálida luz de uma vela eu lia, me chegavam antigas lembranças de um dilema.
Quanto amargo e dissabor o silêncio produz! Entre as sombras vacilantes da noite, chegam em formas indefinidas, que sobre minha cabeça pairam, aves e outras criaturas aladas que de infernal recônditos alçam vôo até minha mente, a perturbar minh’alma.
Essas formas indefinidas das sombras criadas pelo medo, ocupando o vazio do meu ser, preenchendo o que antes era de sentimentos sublimes e, agora, somente o sentimento de dor. O que antes era alegria, agora é tão somente o dissabor.
Que pena paga um condenado pelos sentimentos! Oh, agonia incessante. Que martírios mais terei que suportar? Como um medo tão latente do desconhecido, pode tanto me apavorar? Será do vazio de minha alma que sinto medo? Ou do esquecimento do meu ser, por outro já amado?
Não é do fim da vida que treme minha alma, mas do fim do sentir-se bem eterno. Não mais existir não é tão doloroso quanto o existir sem ser notado, ou amar sem ser amado, ou perder o que jamais será recuperado.
Omaira
a montanha furiosa
em convulsões coléricas
vomitou a ira da terra
sobre a planície
fogo e gelo
água e terra
lama e lágrima
soluço e dor
oh, dor!
"porqué arrestame, tierra mia?"
"porqué, Dios mio?"
"no és justo."
não, não é justo, preciosa!
menina, divina.
a terra é pouco pra ti
teu espírito é elevado.
anjo,escuta!
eis o mistério do amor maior.
vem,vem Omaira!
o berço do amor maior te espera
e nele foi preparado um lugar que é teu.
anjos não devem habitar esta terra suja
e, qual ironia, divina menina!
qual ironia!
deixa sob essa terra o que fútil
toma a plenitude
sem limites da vida
"mami, papi, se me escuche..."
sim, divina menina, todos escutam e sorriem
estás vindo!
estás vindo!
e ninguém poderá evitar
é a impotência mundana
infinitas vezes louvada seja a resolução divina!
agora és eterna.
viva a eternidade dos sonhos divinos, Omaira.
"cada estrela do céu Deus a chama por seu nome"
e Deus chama sua estrelinha "Omaira"
que tem brilho próprio e que jamais apagará.
vive, eterna menina.
és a estrelinha de Armero, que brilha para o mundo.
Roger Silva
Macapá, 16 de Novembro de 2008.
para Omaira Sánchez, com profunda ternura.
O FAROL DO FIM DO MUNDO
O FAROL DO FIM DO MUNDO
a ti, senhora, que reencontraste o lar
Em uma ilha muito distante, em pleno mar do fim do mundo,
como é conhecido o estreito de Drake, onde o mar é sempre
agitado por tormentas e o vento ríspido e gélido proveniente
das regiões glaciais da Antártida, existiu há muito tempo atrás
um farol numa pequena ilha próxima a terra do fogo.
Aquele farol era o único naquelas paragens desérticas distantes
do resto do mundo. Era a luz daquele farol que em noites
de mar escarpado, trazia aos marinheiros que por ali vagavam,
a esperança de uma chegada segura no estreito, até a saída
do canal onde seguiriam em sua viagem rumoas águas do pacífico.
No farol viveu por muito tempo um faroleiro juntamente com
sua família – sua mulher e um filho de pouco mais de cinco anos.
Anos após anos seguidos em uma rotina imutável, vendo passar
no horizonte distante, os navios
errantes e o mar impiedoso e atroz.
O farol nunca falhava. Tormenta após tormenta ele sempre estava lá,
emitindo sua luz âmbar em todas as direções daquele horizonte sempre
cinzento, encoberto por neblinas densas. Mais anos e anos
se passaram e um dia a mulher do faroleiro, na varanda do farol,
com os olhos voltados em um ponto qualquer do grande mar, enquanto
dormiam seu marido e filho, desceu até a pequena praia que ali havia,
e olhando compenetrada o gigante gelado, tomou-o pelo jardim de sua
casa que quando menina lá morava, e que agora sua mente a trazia de
volta, e no mar entrou, para o jardim voltou e de lá nunca mais saiu.
Seu esposo e filho nunca mais retornaram a vê-la.
Os anos continuaram vindo, lentos e infalíveis.
Até que em certo momento
alguma coisa pareceu ter acontecido.
O tempo era sempre lento, e a vida
no farol era como um quadro pintado, parecia não mudar com o tempo.
Era sempre a mesma imagem, o mesmo retrato. Mas um dia parece que
alguma coisa havia mudado. De repente o garoto cresceu sem se aperceber,
e agora já era adulto. Foi essa mudança que o fez notar o tempo retratado
no corpo do seu velho pai. Estavam lá as marcas de todos os anos de sua
vida no farol. Cada ruga, cada cabelo branco contava um cotidiano de uma
história que ao longo do tempo foi uma só. Dia após dia a mesma história
durante décadas, e agora parecia serem tão notórias essas evidências do
tempo marcada na pele do seu velho pai. Pensava isso certo dia quando
via o velho sentado na varanda do farol, como fazia todos os dias de sua
vida ali. Então o rapaz se apercebeu do seu destino. E sua mente, como
o reflexo da luz do velho farol, se iluminou dentro de sua própria alma, e
pela primeira vez veio um medo interior que o fez sentir-se um ser esquecido.
Vieram velhas lembranças à sua mente: sua mãe, uma rua, uma casa, algumas
outras crianças...
E viveu o rapaz dali em diante com uma tristeza que nunca mais lhe sairia dos
olhos.
Passaram alguns meses e chegou um certo dia em que as provisões acabaram,
e o pequeno barco que todos os meses ali encostava para lhes suprir, havia
uma semana não aparecia. Estavam à mercê do destino. O isolamento era total
e não havia outro transporte senão uma pequena e velha canoa que usavam
para pescar próximo às margens e que há muito não usavam. A sede era a pior
de todas as dores, superando a da fome. O desespero fez com que bebessem
água salina do mar, o que lhes aumentava a desidratação. O pânico se acercava
do pai e do filho, até que no amanhecer de um outro dia, apenas um o sentia
por inteiro com todos os seus terrores. O velho havia morrido.
Sem forças para descer o velho do farol, e enterrá-lo, o rapaz o sentou na
cadeira da varanda como sempre o velho fizera por todos aqueles anos,
e lá o deixou. Desceu vagarosamente a longa escada em espiral, arrastou
a pequena canoa até a margem do mar, subiu e a empurrou até mais fora
da praia e nela deitou-se com os olhos voltados para o céu. Um instante
depois com grande esforço sentou-se e buscou seu olhar pela última vez,
o farol. E lá avistara o velho farol e seu velho pai, sentado como se tivesse
o observando e de algum modo, querendo dizer-lhe algo em um lamentoso
adeus. Então deitou-se novamente. Não havia mais nenhum vestígio de forças
no seu corpo. Entregara-se de vez ao destino infeliz que a vida o premiara.
E assim as correntes o levaram ao mar aberto até sumir como um pontinho
escuro no horizonte.
Depois de muito tempo de existência, naquela noite o farol não acendeu.
Sua luz âmbar nunca mais voltou a iluminar a escuridão das noites daquela
parte do mundo.
E o tempo passou...Décadas e mais décadas, ninguém voltou a por os pés
naquela pequena ilha do estreito de Drake. As ondas do mar cavavam
ano após ano, a base do velho farol. O mar avançara lento, lento.
As pedras de seus alicerces já começavam a aparecer junto com suas ferragens
que a salinidade do mar destruía dia após dia, um após outro a cada vergalhão
da construção. E o tempo passou e passou e o mar avançou e avançou, até que
um dia o velho farol fraquejou sob seu peso e a fúria das intempéries glaciais
e por fim, caiu. E seus escombros até hoje estão lá, sob as ondas do mar gélido
de drake, na terra do fogo.
Um lugar chamado de fim do mundo,
porque ali é a terra que o mundo e o tempo esqueceram.
O VELHO NAVIO
ao infortúnio do amigo Aaron Zvestkovis, marinheiro.
Era uma tarde de mar calmo, de águas espelhadas, pálidas pela luz do fim
de tarde.
O vento não soprava, e não havia no céu nenhuma nuvem.
O velho navio singrava suave como se deslizasse pelas águas vitrificadas,
seguido de um roncar surdo do velho motor no inferior de sua popa.
Rumava em direção ao por do sol e desenhava em sua retaguarda,
um rastro de pequena turbulência provocada por suas hélices.
Era um navio realmente velho. Seu casco todo enferrujado, trazia marcas
de sua trajetória em cada porto por onde passou; seu nome já não se
distinguia entre a ferrugem.
Seu calado, já enfraquecido pelo tempo, a água salobra do mar e as
pesadas cargas que transportara desde muito tempo, rangia com os ferros
de sua estrutura resvalando uns nos outros pelas folgas entre as peças.
O som do ferro se perdia ao longe, ao longo do seu percuso.
Raramente se via os tripulantes na proa ou em toda a extensão do lado
externo, mas quando apareciam, era impossível não deixar de se
surpreender por seu aspecto.
Olhares sempre voltados para o infinito, sempre buscando algum ponto,
algum referencial.
E a expressão da face justificava o olhar. Era como se esperassem por algo;
como se esperassem por uma resposta que no fundo da alma sabiam
que jamais chegaria.
Expressão de angústia profunda, mesclada com um medo interior, um medo
intenso, todavia, sem saber do quê. Eram como corpos sem o vigor da vida,
sem ânimo e sem vontade; andar pesado e lento, como se contassem os
passos; nunca se falavam e nunca trocavam olhares.
Era como se um não notasse a presença do outro, ou não fazia diferença
o outro estar ali.
As roupas pregadas ao corpo encurvado, como se levasse o peso do
mundo nas costas, e não dormissem há tempos e tempos.
Era como a visão de um ataúde flutuante, e que levava seus ocupantes
para uma viagem eterna até seu descanso final no seu túmulo que
seria o próprio mar.
Ninguém guiava a embarcação; ela seguia sempre em rumo próprio,
levando seus ocupantes, os condenados por um crime imperdoável
até seu destino frente a frente com seu algoz.
No fim da tarde, quando os últimos raios pálidos de sol refletiam moribundos,
sobre a água, veio do leste grande nuvem negra e medonha seguida
de forte vento que agitava o mar com vagas enormes e violentas.
Os olhares dos tripulantes voltaram-se para estibordo com grande terror.
Viam ali chegando, seu carrasco impiedoso e insaciável, com grande fúria,
executar a ordem capital, a sentença injustificada de um juiz frio e cruel.
Expressões horrorizadas estamparam os rostos dos condenados com
uma angústia que vinha do mais profundo recôndito da alma, aflorar
nos nervos e em todas as articulações daqueles corpos trêmulos e já
sem nenhuma força.
O forte vento logo deu origem a um enorme ciclone, fazendo o barco
ficar bem ao seu centro. Grandes correntes de ventos varriam a embarcação,
ondas enormes lavavam o convés; a embarcação pendia de um lado a outro,
e em certos momentos, parecia que viraria. Os tripulantes já sem a mais
remota das esperanças, ainda seguravam-se na amurada, mas por puro
instinto, e não por esperar salvar suas almas da mão do impiedoso destino.
Meia hora depois do início, a tempestade chegou a seu apogeu. A escuridão
era total, e o que se via de longe, era uma pálida luz que vinha do interior
do barco.
Seus tripulantes se refugiaram até então em seu interior; o navio
mergulhava por completo sob as vagas, e tempo depois, voltava à tona,
como um ser que, se afogando, busca desesperadamente encher seus
pulmões de ar para conseguir sobreviver por mais uns instantes debaixo
da água. O vento se acercava mais e mais, tudo estava acabado!
Não havia mais o que esperar.
Em um desses mergulhos violentos, a grande e negra embarcação sucumbiu
ao furor da matéria, e deixou o mundo da superfície para traz, para nunca
mais voltar.
E o que se viu num último relance, foi o rosto de um dos tripulantes
colado em uma das janelinhas de vidro, olhando para fora, quando o navio
já deixava o mundo de cima, com a expressão de um rosto que faz
um vivente quando a alma parece querer sair de dentro do corpo através
dos olhos.
Uma expressão de dor, angústia e medo; a expressão de quem olhava
tudo aquilo acontecer, e impotente, contra seus algozes, apenas olhava
em um último instante para lhes perguntar
“por que?”.